quarta-feira, 13 de abril de 2016

Em tempos de crise, como definir a pretensão salarial? Tire suas dúvidas


Se colocar valor muito elevado, profissional pode ser desconsiderado.
Candidato deve pesquisar mercado, considerando porte da empresa.

Até pouco tempo atrás, o mercado de trabalho estava aquecido no Brasil, e os profissionais estavam mais "no controle", por conta da "guerra de talentos" e da alta demanda de contratação das empresas. Mas hoje o cenário está invertido: se antes era possível conseguir um bom salário, muitas vezes acima da média do mercado, agora é preciso cuidado na hora de negociar o valor da remuneração.

Em tempos de crise, as empresas cortam custos, e candidatos que aceitam ganhar até menos que no emprego anterior podem levar a vaga.
De acordo com o IBGE, em fevereiro, a população desocupada cresceu 7,2% em relação a janeiro e alcançou 2 milhões de pessoas. Já segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), no mês passado, as demissões superaram as contratações em 104.582 empregos.

Com a queda no número de vagas e o aumento de desocupados, como proceder na hora de informar a pretensão salarial para o selecionador?
De acordo com especialistas ouvidos pelo G1, quem está na busca por recolocação precisa, antes de definir um valor a ser pedido para a empresa que abriu a vaga, fazer uma pesquisa de mercado, conversar com pessoas da área e ficar aberto a negociar caso seja necessário.

Veja abaixo o tira-dúvidas com o coach Diego Aieta, a consultora de RH e Diversidade Flavia Mentone e a empresa de recrutamento Robert Half.
devo colocar um valor mais baixo para garantir a vaga (Foto: G1)
Flavia Mentone: A pretensão deve ser colocada baseada no último salário. Além disso, existem aplicativos em que é possível fazer uma pesquisa salarial de mercado, que se baseiam no salário declarado pelos funcionários das empresas. Entretanto, a pretensão só deve ser mencionada quando o entrevistador perguntar. Como estamos em tempos de crise, sugiro que quando for falar a pretensão, avise que é possível negociar.
Diego Aieta: Pesquise a situação da empresa para entender o momento. Ensaie mentalmente como você se sentiria trabalhando nessa empresa por três meses, seis meses e um ano, pelo valor que você pretende solicitar. Considere a expectativa de inflação para o período para não ter uma surpresa, pois os custos estão subindo. Ao mesmo tempo, não espere que apenas a remuneração pretendida garantirá a vaga. Dedique cuidados para colher elementos do porquê você é um bom candidato e estruture sua comunicação em torno disso.

Robert Half: Para quem está no mercado, não é difícil encontrar proposta salarial menor do que o último salário. Quando for questionado em uma entrevista se aceitaria um salário menor, no lugar de um simples sim ou não, responda: “Eu não aceitaria um salário menor em qualquer empresa. Mas na empresa X, eu aceitaria pelas razões x, y, z.” Dessa forma, você destaca seu futuro empregador sem perder o seu próprio valor.

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Pedir um valor acima do praticado pelo mercado pode ser arriscado? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Sim, se você colocar uma pretensão muito acima, você pode ser desconsiderado no processo, caso a empresa esteja planejando pagar menos. Durante uma entrevista, o selecionador sempre vai pedir para apresentar resultados e diferenciais, principalmente em tempos de crise, quando estamos concorrendo à vaga com outros candidatos.

Diego Aieta: Pedir acima do praticado pode desinteressar a empresa que apenas quer reduzir custos. Porém, se você tiver diferenciais de potencial de contribuição com resultados extraordinários, deve expressar isso na proposta. Hoje, buscam-se resultados com custos controlados – assim, você pode incitar a curiosidade do selecionador. Porém, se atualmente você não for uma referência ou celebridade no seu mercado, seu potencial de resultados é mais uma vantagem para uma vaga pelo valor de mercado do que para um valor acima do mercado.

Roberto Half: ao fazer uma projeção salarial, o ideal é acrescentar algo entre 10% e 20% sobre o pacote de remuneração atual. Assim, evita-se determinar valores específicos e pode deixar uma margem para negociação.

Selo - O que devo levar em conta para estipular o valor? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Pesquisar o mercado, sempre considerando o setor e o porte da empresa, já que influenciam no salário, falar com profissionais da área e levar em conta o último salário. Também deve-se considerar o pacote de benefícios da empresa, que se forem bons podem compensar o salário menor, já que você poderá economizar no plano de saúde, cesta básica e o local de trabalho. Se for próximo da sua residência você pode economizar no transporte, ganhar qualidade de vida ou ter tempo para fazer trabalhos eventuais. Entretanto, é importante rever o orçamento para ter a clareza do valor que é possível flexibilizar. Caso contrário, um trabalho que não seja suficiente para pagar as contas vai causar insatisfação em pouco tempo. Se não for possível voltar a ter o mesmo salário anterior, deve-se considerar a possibilidade de fazer trabalhos eventuais com o objetivo de ter outra fonte de renda para não prejudicar o orçamento.

Diego Aieta: Comparação com cargos atuais pode ser uma boa referência, mas considerando uma pessoa nova na empresa descontando benefícios de cargos sénior. Hoje é prática substituir posições sênior com novos profissionais, o que libera a empresa de pagar benefícios por antiguidade ou experiência. Seu último emprego pode ser relevante ou não. É necessário considerar se as funções/responsabilidades são equivalentes e se você já tinha benefícios por tempo de casa.

Selo - E se eu não tiver experiência? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Pense nas suas habilidades e no que você sabe fazer. Todo mundo sabe fazer alguma coisa que pode ser usada no trabalho.
Diego Aieta: Quem não tem experiência no cargo da vaga precisa se focar em expressar sua disposição a aprender e contribuir, mostrar seus atributos de bom integrante de equipes e sua flexibilidade em cooperar com os objetivos da empresa. Pode usar referências de sua experiência em cargos anteriores, na fase de estudos ou de algum empreendimento. Será o primeiro passo para conquistar experiência nesta área para o resto de sua carreira. Acesse seu espaço interno de autoconfiança para o momento da entrevista, assim, o selecionador terá elementos emocionais para acreditar em você.

Selo - Posso colocar a pretensão salarial no currículo? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Não. Só se for solicitado.

Diego Aieta: Pode sim, porém, precisa enquadrar quais condições estão associadas para comunicar melhor esse valor. Por exemplo: carga horária esperada, responsabilidades, funções e tudo o que seja relevante à sua posição. Se você sabe que não está disposto a trabalhar 40 horas por semana, por menos de X, especificar esse valor vai filtrar possíveis entrevistas que não vão lhe atender e desgastar. Se você quer ser mais flexível e explorar as possibilidades do mercado, não coloque valor e espere o melhor momento para abrir esse tema.

Selo - Em que momento serei requisitado a dizer o valor? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Geralmente a pretensão é perguntada durante a entrevista.

Diego Aieta: Algumas empresas solicitam o valor desde a apresentação do currículo, já em outras, esse valor aparece mais à frente. O que você pode fazer é refletir antes sobre essa questão para não reagir de surpresa, sendo capaz de elaborar uma resposta estruturada.

Robert Half: Não é recomendado falar de salário na primeira entrevista. “A não ser que você seja perguntado, nesse momento não fale de remuneração. Foque nas suas qualificações, como você se identifica com a empresa e a forma como enxerga seu futuro na companhia”, afirma.

Selo - Se a empresa pede para colocar o último salário e a pretensão salarial no currículo, que valor eu coloco? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Deve colocar a pretensão igual ao salário ou até 20% a mais, caso a função exija mais responsabilidades que o emprego anterior. Se você não estiver trabalhando, sugiro que deixe claro para o selecionador que está disposto a negociar.
Diego Aieta: Precisa levar em conta se o cargo para o qual você está se apresentando é equivalente, inferior ou superior ao atual. Nessa comparação, cogite que seu novo empregador dificilmente considerará seu tempo de casa na outra empresa como um fator para o cálculo do salário.

Selo- Posso colocar um valor menor no envio do currículo e depois elevá-lo na entrevista? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Não. É importante ser verdadeiro durante todo o processo.
Diego Aieta: Provavelmente isso não será bem visto. Você pode especificar seu valor incluindo suas considerações de condições envolvidas, se na conversa com a empresa houver uma diferença significativa nas condições, como por exemplo, mais horas, horário não convencional, mais responsabilidades ou outras mudanças. Você estará no direito de reformular suas pretensões como parte da negociação.

Robert Half: Jamais minta seu atual salário, seja para mais ou para menos. Em algum momento, o real valor será descoberto e você terá sua credibilidade questionada. Aliás, essa regra vale para todas as etapas da entrevista e da carreira. Caso seu salário esteja acima do mercado, diga que sabe disso e que está confortável em se adequar à média do setor.

cargo (Foto: G1)
Flavia Mentone: Faça uma pesquisa de mercado e converse com pessoas que trabalham na mesma área antes de estipular o valor.
Diego Aieta: Pesquise as remunerações atuais dos profissionais desses cargos, não apenas na sua antiga empresa. Use seus contatos para obter dados ao respeito. Considere até onde as habilidades do seu cargo antigo serão úteis no cargo da vaga e prepare essas argumentações para incluir no seu currículo e/ou na entrevista.

Selo- Por que algumas empresas pedem pretensão salarial e outras não? (Foto: G1)
Flavia Mentone: Porque algumas ainda não fecharam o valor do salário, então precisam saber o valor baseado no que o candidato procura.
Diego Aieta: Com certeza cumpre uma função de filtro. Tem cargos mais simples e outros mais complexos, portanto, não há um critério uniforme. É possível entender se o candidato tem os pés no chão - valores muito baixos demonstram desconhecimento do mercado e as tarefas envolvidas, e com certeza será uma experiência frustrante para todos; um valor alto demais indica também outro possível tipo de desatualização ou mal-entendido. Se a empresa não solicita pretensão salarial, pode indicar que não está disposta a negociar e já tem o salário fechado, ou que tem várias vagas na sua grade, então, vai escolher para onde encaminhar os candidatos que atendem a seus critérios. Independente disso, considere sua experiência, valor agregado e formação como bases para estruturar sua comunicação e defender sua candidatura à vaga. Autoconfiança, congruência, responsabilidade e ética são elementos que pesarão na sua negociação.
http://g1.globo.com/economia/concursos-e-emprego/

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